O Senso Comum e a Ciência
O cientista virou um “mito”, ou seja, é uma
pessoa que pensa melhor do que qualquer outro indivíduo, prova disso é que se
fecharmos os olhos para pensar em um cientista, teremos diversas imagens de
autoridades do saber (Rubens
Alves, 1981. p.07). Isso tudo, são imagens
mostradas pela televisão e outros tipos de meios de informações midiáticas, que
de certo modo nos coloca como inferiores aos cientistas. Em outras palavras, os
cientistas fazem parte de uma classe, “que supostamente existe”, especializada
em pensar de maneira correta, sendo que todos os outros indivíduos são
liberados da obrigação de fazê-lo. Sendo assim, o que nos resta é simplesmente
fazer o que os pais dos saberes, os cientistas, nos mandam.
Na sua tese de 1981, Rubens Alves, nos
convida a acabar com o mito de que os cientistas são pessoas que pensam melhor
do que as outras, pois todo mito é perigoso, já que ele induz o comportamento e
inibe o pensamento. Segundo Alves, deve-se atentar para o que a ciência mostra,
pois o que ela revela como certezas são apenas pequenos fragmentos do real que
são estudados, tão somente isso. Seria
como se todos tivessem uma janela pela qual pudessem ver o mundo, e tivesse
algumas pessoas que de sua janela vesse melhor a árvore que está longe da outra
janela. Resumindo, os cientistas são especialistas de uma única técnica,
reduzem o mundo, o real, em apenas um pequeno fragmento da área que ele se
especializou, assim como o pianista, que se especializa em uma única técnica.
A ciência não é uma novidade do ser humano,
um órgão novo de conhecimento, mas sim uma potencializadora das extensões do
real fragmentado, uma especialização, um refinamento de potenciais comuns a
todos, ou seja, uma hipertrofia de capacidades que todos possuem (Rubens Alves, 1981. p.09). Ela não consegue ter uma visão ampla das outras áreas
em sua volta, foca tão somente no seu pequeno fragmento retirado do senso
comum.
A
ciência é um processo de desenvolvimento constante e progressivo do senso comum,
ou seja, depende totalmente deste. Assim, através de técnicas mais rigorosas
que o senso comum não possui, ela consegue ir mais fundo em seus estudos. Sem o
senso comum a ciência não poderia existir, apesar dela menosprezá-lo, dando
este nome com o significado de que ele está abaixo de seu nível, pode-se
afirmar que só se pode ensinar e aprender partindo do senso comum que possuímos,
nos afirma Rubens Alves.
A aprendizagem da ciência é um processo de desenvolvimento progressivo
do senso comum. Só podemos ensinar e aprender partindo do senso comum de que o
aprendiz dispõe. A aprendizagem consiste na manutenção e modificação de
capacidades ou habilidades já possuídas pelo aprendiz. (Rubens Alves, 1981. p.
09)
O que a ciência faz é explicar o real de maneira
precisa, formal. Ela observa, aperfeiçoa e sofistica o senso comum, mediante
suas tecnologias avançadas.
Tanto para a ciência como para o senso comum,
ser bom é ser capaz de inventar novas soluções para novos problemas, criar
coisas novas a partir das coisas velhas. A base tanto da ciência como do senso
comum, consiste em compreender o mundo a fim de viver e sobreviver melhor, ou
seja, são as mesmas. Porém, o mundo sobreviveu cerca de quatro séculos sem algo
que se assemelha a ciência de hoje, e com esta, que se diz superior ao senso
comum, com seus avanços, estamos correndo sérios riscos de sobrevivência (Rubens Alves, 1981. p.16).
No senso
comum vemos sobre, o que não é problemático não é pensado, ou seja, é a partir
de um problema que o pensamento é forçado a trabalhar. Quando as coisas não vão
bem, ou quando alguma coisa incomoda é que o pensamento entra em ação, assim,
todo pensamento começa com um problema e quem não é capaz de perceber e
formular problemas com clareza não pode fazer ciência, (Rubens Alves, 1981. p.18).
Para Alves (1981), as pessoas tem o poder de
imaginar o real em suas mentes. Este poder mágico do pensamento de simular o
real, antes das coisas acontecerem, por causa da existência de uma ordem na
natureza, permite o levantamento de previsões, hipóteses. O espanto perante a
ordem é a primeira inspiração da ciência. Quando um cientista enuncia uma lei
ou teoria, ele está apenas contando como funciona a ordem. Sempre procede-se de
maneira ordenada, pois se pressupõe que haja ordem. Se não houver ordem não há
problemas a serem resolvidos, já que o problema é construir uma ordem ainda
invisível de uma desordem visível e imediata.
O problema é descobrir uma ordem, que se
pressupõe que exista. Dessa forma é que se começa a entregar a um problema que
julgamos poder resolver com os recursos dos quais dispomos. Um problema só pode
ser considerado problema, se produzir perplexidade e incômodo a alguém. A
primeira tarefa que se tem diante de um problema é ver o problema com clareza,
que não é a mesma coisa que dizer com clareza, mas, possuem uma intima relação,
pois só diz com clareza quem vê com clareza. Dizer com clareza é a marca do
entendimento, da compreensão, é indicar as partes que o problema se compõe. É
esse procedimento que se dá o nome de análise, sem essa não pode resolver
nenhum problema, pois é inútil, tolo tentar responder uma questão que você não
entende (Rubens Alves, 1981.
p.26).
Diante de um problema deve-se tomar decisões
inteligentes, que segue o caminho inverso da ação. Começando de onde se deseja
chegar, evita-se o comportamento errático e desordenado a que se dá o nome de
“tentativa e erro” (Rubens
Alves, 1981. p.27).
“O sábio começa no fim; o tolo termina no
começo” por mais que pareça estranho, pode-se raciocinar como se o fim fosse o
ponto aonde se deseja chegar, se ainda não se chegou lá, não posso saber como
será, mas o fato é tão somente por ter pensado o fim que posso procurar o que
falta para completa-lo (Rubens
Alves, 1981. p.27).
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
ALVES,
Rubens. FILOSOFIA DA CIÊNCIA.
Introdução ao jogo e suas regras. Ed. Loyola. p. 07-27, 1977.
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